Quantcast
Channel: Ronaldo Evangelista » Mutantes
Viewing all articles
Browse latest Browse all 11

Se eu tivesse asa inda hoje eu via Ana

$
0
0

Naná Vasconcelos está lançando CD novo, “4 Elementos”, e aproveitei a oportunidade para ligar para ele e bater papo sobre sons e ideias, matéria publicada hoje na Folha Ilustrada, nas bancas, online e abaixo.

Álbum de Naná Vasconcelos traduz em música elementos da natureza

“A natureza é um conservatório de vida e sabedoria”, diz Naná Vasconcelos.

Está falando de como sua música é orgânica e sua inspiração constantemente renovável. Em seu novo álbum, “4 Elementos”, o percussionista resolveu pintar de sons representações imaginatinas dos elementos da natureza.

“No meu disco anterior, “Sinfonia e Batuques”, que ganhou o Grammy e tal, eu fiz a “Suíte das Águas”, onde faço toda a percussão com água, a parte ritmica”, lembra Naná, em entrevista por telefone de sua casa, no Recife. “Tirar som da água foi um processo que começou no mar, eu na praia, brincando. Depois trouxe pra casa e comecei a gravar aqui na piscina. Aí já tinha um caminho. Pensei, “então vou fazer os quatro elementos”.”

A água aparece em melodia e ritmo na composição “Chorágua”, um choro. A terra vem na faixa “Terráqueos – Vida – Bush Dance”, representada pelos habitantes do planeta. Mais especificamente, nossos corpos, com que podemos fazer música. Ideia reminiscente de outras gravações de Naná utilizando o corpo como instrumento, aqui em fusão com detalhes eletrônicos. O fogo aparece em vinhetas de sonoplastia de voz e saco de salgadinho.

Já o ar, vai longe. “Pra signifcar o ar e criar essa trilha da minha imaginação pensei em um grupo de astronautas africanos indo fazer uma dança nos anéis de Saturno”, explica Naná, rindo uma risada fácil e sincera. “Aí, já que estavam lá, fizeram um coco na lua”, ri mais ainda, citando as faixas “Astronáfrica” e “Coco lunar”.

Imaginação notável de Naná, que pelos últimos mais de 40 anos lhe instiga entrar em estúdios e criar do silêncio sinfonias pessoais de percussão, vozes, instrumentos, sons, corpo e fazer disso seu fazer diário. Criatividade intensa que permeou as muitas colaborações com músicos brasileiros e jazzistas internacionais, de Milton Nascimento, João Donato, Mutantes, Egberto Gismonti a Pat Metheny, Don Cherry, Miles Davis.

O disco também traz homenagens a Clementina de Jesus e Airto Moreira, além de tema composto para trilha sonora e uma versão de “Légua tirana”, de Luiz Gonzaga, “música que faz parte da minha vida desde que me entendo por gente”, diz Naná.

Citando os versos “ó que estrada mais comprida, ó que légua tão tirana / se eu tivesse asa, inda hoje eu via Ana”, ele comenta: “Minha légua é tirana. Não é fácil quando você faz uma coisa que só você faz, não faz parte de um movimento. É como eu vejo minha história. Hoje eu já posso dizer isso mais conscientemente, com 69 anos. Cada disco meu é um momento diferente da minha vida, resultado dessas experiências que estou sempre querendo ter, mais e mais. Minha légua tirana é minha vida: sempre querendo chegar lá e nunca chegando, porque estou sempre procurando mais. Mas se eu tivesse asa eu chegaria.”


Viewing all articles
Browse latest Browse all 11

Latest Images

Trending Articles



Latest Images